28 de agosto de 2011

Matéria sobre a Lavapés para o Catraca Livre

 publicado originalmente em 25/08/11 no site Catraca Livre

"Lavapés, a pioneira, na Praça do Samba neste domingo"
por André Carvalho

Foi no carnaval carioca de 1936 que Deolinda Madre e Francisco Papa se encantaram com o desfile das Escolas de Samba na lendária Praça Onze. Em São Paulo, nas rodas de samba da baixada do Glicério, na Liberdade, Madrinha Eunice e Chico Pinga – como ficaram conhecidos na historiografia do samba paulista -, juntamente com Zé da Caixa (José Madre, irmão de Deolinda), amadureceram a ideia de levar a novidade da Guanabara para o Carnaval das ruas do Brás.

As tradicionais Vai-Vai e Camisa Verde e Branco eram, à época, cordões e desfilavam ao som da “marcha sambada”. E, a despeito do pioneirismo da efêmera Escola de Samba Primeira de São Paulo (surgida pouco antes, mas de vida curta), a Sociedade Recreativa Beneficente Escola de Samba Lavapés, fundada em 9 de fevereiro de 1937, é a mais antiga escola de samba paulistana em atividade. Cabe ressaltar que a Lavapés, ao contrário dos rivais, tocava samba no chamado “tríduo momesco”.

Se o carnaval dos dias atuais valorizasse tradição e história, a Lavapés teria posição de destaque no grande espetáculo de fevereiro, no Sambódromo do Anhembi. Afinal, possui 19 títulos e contou, ao longo de sua história, com nomes como Doca, Popó, Jangada, Xangô, Geraldo Filme, Inocêncio Mulata e Carlão do Peruche. Mas o fato é que hoje a Escola de Samba se encontra no Grupo 4, última divisão, e não conta mais com subvenção da Prefeitura de São Paulo.

Ações para o resgate, no entanto, já estão sendo realizadas. O Kolombolo Diá Piratininga, agremiação que batalha pela afirmação do samba paulista, prepara, atualmente, um disco em homenagem à Escola e fomenta a realização de atividades que possam gerar receita e maior visibilidade para a Lavapés, que precisa, afinal, desfilar em fevereiro de 2012.

Neste domingo, 28, a partir das 14h, a roda de samba mensal promovido pelo Kolombolo na Praça do Samba, recebe integrantes da Lavapés, incluindo a presidente Rosemeire Marcondes (neta da fundadora, Madrinha Eunice). A entrada é Catraca Livre.

“Lavapés é a minha casa, minha vida, minha família”

Presidente da Lavapés desde 1996, quando herdou o bastião de sua avó, Madrinha Eunice, que falecera, Rosimeire batalhou para levar a Escola a uma posição de destaque no Carnaval. Há sete anos, porém, a agremiação sofreu um duro golpe, quando perdeu sua quadra. “Minha casa virou a sede da Lavapés”, afirma a sambista.

Perspectivas otimistas, todavia, têm surgido. Há a possibilidade da Escola receber a doação de uma nova sede e voltar a desenvolver ações sociais como oficinas de percussão e dança, bem como a instalação de um telecentro para a comunidade no local. Tudo gratuito. “Precisamos unir a cultura popular ao social. Unindo forças, podemos nos levantar novamemente”, diz a presidente da Lavapés.

Para o desfile de 2012, o enredo e os figurinos já estão prontos. E Rosemeire clama a participação de foliões, para conseguir tirar a Lavapés do Grupo 4: “A fantasia é de graça, só precisa pagar a sapatilha”.

Lembranças de carnavais passados

Rosemeire traz na memória histórias de um tempo em que o samba e o carnaval eram impregnados de romantismo. “Minha avó nos levava para Pirapora, víamos toda aquelas celebrações, era uma infância muito boa”, garante.

Nos carnavais, a menina Rose saía de baiana, outro pioneirismo que a Lavapés levou para os desfiles paulistanos. “Era desconfortável”, atesta, relembrando os tempos idos.

O Dia Nacional do Samba, celebrado no dia 2 de dezembro, também traz boas recordações. “Às seis da manhã, com a alvorada, a batucada saía às ruas”.

Hoje, os tempos são outros, o carnaval é outro. Mas domingo, diferentemente do que acontecerá no Sambódromo em fevereiro do ano que vem, a história e a tradição virão em primeiro lugar. “Domingo, queremos resgatar a história do samba paulista e trazer o público para conhecer a Escola”, afirma, otimista, Rosemeire, já vislumbrando dias melhores para a Lavapés.

23 de agosto de 2011

Aluísio Machado no Anhangüera

Imperiano, bamba, craque, baluarte. Nesta sexta-feira, no Clube Anhangüera, reduto do samba paulistano.


9 de agosto de 2011

Guerreiras do samba

As mulheres, historicamente, atuaram dentro do mundo do samba como pastoras, ou seja, eram elas as responsáveis para fazer o samba "pegar", ou não, dentro do terreiro (posteriormente quadra). Avaliando-as como quituteiras de mão cheia, que cozinhavam para que a "tropa toda pudesse brincar direitinho", temos uma visão simplista da história, já que foram elas, as "tias baianas" do Rio de Janeiro quem abrigaram as primeiras rodas de samba, os primeiros encontros de sambistas. Foi graças à hospitalidade e organzição destas mulheres como Tia Ciata, Dona Esther e Tia Fé, que o samba nasceu.

Mesmo assim, o samba e os sambistas, ao longo dos tempos, foram tachados de machistas, um reflexo da sociedade, pois. Cantavam, mas não compunham. Ou compunham, mas não alcançavam espaço. "Catituar" sambas, ou seja, arranjar espaço para gravação não era algo fácil para quem era vista como o "sexo frágil". E o que falar de mulheres instrumentistas? Poucas se arriscaram, poucas apareceram. Talvez o choro ainda abrigasse mais delas, mas o samba não.

No entanto, neste ano de 2011, no dia 5 de agosto, um importante acontecimento se deu em São Paulo. Desmistificador, rompeu tabus e quebrou paradigmas. Uma imensa roda de samba composta por mulheres que pertencem ao Movimento Cultural @migosdosamba.com abalou as estruturas da Ação Educativa e mostrou que as mulheres podem, sim!

Se elas ainda não assumiram a direção musical (os instrumentistas da roda eram todos homens), por outro lado, mostraram que são extremamente competentes em montar um repertório à altura da importância histórica que representam em nossa sociedade. Trocando em miúdos, as mulheres, razão plena de nosso viver, deram as caras e disseram: "somos sambistas organizadas, podemos cantar nossos anseios, nossas angústias, nosso viver e vamos varrer o machismo que impera no samba desde o dia em que os bambas do Estácio de Sá disseram que amor é o de malandro".

Há tempos não me emocionava como me emocionei nesta sexta-feira. As @migas, lindas, altivas, altaneiras, soltaram a voz e mostraram para que vieram. Um dia glorioso para o samba, sem sombra de dúvidas.


Momento sublime aquele em que ecoou os versos "Um dia, um ser de luz nasceu, numa cidade do interior...". Era a Clara Guerreira, abençoando a todas. Ela estava ali, sem sombra de dúvidas.

Vi todo o anseio destas mulheres realizarem este sonho, desde o início. Como me surpreendi, como vibrei, como me emocionei!

Gostaria de, através deste modesto espaço, parabenizar todas as mulheres. Não só as "amigas do samba", não só as mulheres do samba, mas sim, todas elas.

Continuem a luta, o samba e a sociedade precisam de vocês.
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O Couro do Cabrito by André Carvalho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.
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