25 de fevereiro de 2013

Onze sambas e uma capoeira, 46 anos depois


Relembrar e reverenciar um clássico, lançado há 46 anos. O palco do Sesc Belenzinho reuniu, no último fim de semana, o sambista Paulo Vanzolini, sob a companhia de Cristina Buarque, Cláudia Moreno, Ana Bernardo e Carlinhos Vergueiro, para cantar onze sambas e uma capoeira. O espetáculo, que integrou o Projeto Álbum, dedicado à revivescência de discos que marcaram época na história da Música Popular Brasileira, foi uma grande exaltação ao samba vanzolineano - criado em São Paulo, mas genuinamente brasileiro - e cumpriu bem o propósito de exaltar o LP lançado há 46 anos.

"Onze Sambas e Uma Capoeira" foi o primeiro álbum dedicado exclusivamente a Paulo Vanzolini, nome de destaque na música brasileira. Produzido pelo publicitário Marcus Pereira e pelo músico Luis Carlos Paraná, contou com arranjos de Toquinho e Portinho e registrou interpretações dos irmãos Chico e Cristina Buarque - ambos em início de carreira. Também participaram do disco Mauricy Moura, Adauto Santos e Cláudia Moreno, além do próprio Luis Carlos Paraná.

Vanzolini, que completará 89 anos em abril, estava feliz com o espetáculo-tributo, assistido pela reportagem do Couro do Cabrito no sábado, 23 de fevereiro. Sentado em uma mesa de bar, criteriosamente arranjada sobre o palco, com um copo de cerveja à sua frente, observava tudo e cantarolava as suas canções.

O espetáculo contou com arranjos de Ítalo Peron, violonista, e trouxe ao palco os músicos Pratinha (flauta), Adriano Busko (percussão), André Tinoco (trombone) e Maycon Mesquita (trompete). Peron foi feliz nos arranjos, que destacavam os instrumentos de sopro. Seu violão firme e constante, sem arroubos de solos, baixarias e bordões, por outro lado, permitia que os intérpretes pudessem explorar ao máximo suas potencialidades técnicas. Já a percussão (pandeiro, surdo, agogôs, e bateria, tudo junto) não chegou a comprometer, ainda que o autor destas linhas considere que, em um espetáculo de samba, o ideal é que cada instrumento de percussão seja tocado por um músico diferente, garantindo, assim, mais ritmo, molho e balanço.

Subiram ao palco, na ordem, Cristina Buarque, Ana Bernardo, Carlinhos Vergueiro e Cláudia Moreno. À medida que cantavam, sentavam ao lado de Vanzolini, e, em um clima de bar, serviam-se de cerveja, água e conhaque. Cristina Buarque e Ana Bernardo não dispensaram o cigarrinho no camarim. Quando foram cantar Volta por cima, todos juntos, Ana Bernardo não voltou ao palco. Vanzolini, seu marido, aproveitou para cutucar: “Está fumando...”. Mas e se ela não voltar? – perguntaram os outros convidados. “Paciência”, respondeu o sambista, quase nonagenário.

A única composição interpretada pelo homenageado da noite foi a Capoeira do Arnaldo, que, segundo o compositor, foi criada em apenas um dia, em resposta a um amigo, Arnaldo Horta, que afirmou que até Carybé - pintor ítalo-argentino, mas baiano de corpo e alma - compunha mais capoeiras que ele. Com a idade avançada, sem a mesma divisão para cantar dos tempos idos, Vanzolini cantou em um ritmo mais apressado, o que não comprometeu sua interpretação.

Carlinhos Vergueiro esbanjou categoria, cantado os sambas com grande bossa e uma divisão que o afirma como um grande intérprete no meio do samba. Cristina Buarque também estava muito à vontade (ela só participa de espetáculos que realmente gosta), bem como Ana Bernardo e Cláudia Moreno (esta, não brilhou nem tampouco comprometeu). Cabe destaque para o roadie, que além de deixar tudo nos conformes, enchia os copos (principalmente o da Cristina) de cerveja dos sambistas.

Findadas as doze canções do disco (onze sambas e uma capoeira), todas clássicas – Samba erudito, Amor de trapo e farrapo, Chorava no meio da rua, Juízo final, Ronda, Napoleão, Capoeira do Arnaldo, Praça Clóvis, Morte e paz, Leilão e Volta por cima -, houve, ainda, tempo para dois sambas que não integram o disco clássico: Tempo e espaço (interpretado por Ana Bernardo e aplaudido por Vanzolini), e Toada do Luís (por Carlinhos Vergueiro).

Gênio de nosso cancioneiro, um dos maiores sambistas de todos os tempos, compositor de samba que rompe as fronteiras do regionalismo – é mais que paulista, é um sambista brasileiro -, Vanzolini merece todas as homenagens. A ele, as flores em vida. 

Avaliação: **** (ótimo)

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